Diário de Uma Sobrevivente
Dia I
Eu estava perdida, sem eira nem beira, sem saber de onde eu vim, como eu estava ou para onde eu iria. Olhava a estrada, a floresta, meus pensamentos ainda perdidos. Foi quando eu os vi, um grupo de três pessoas, todas correndo. Para cima, norte, eu acho. Ou seria sul? Porra, meu, essa história de tudo plano é uma porcaria. E quem disse que eu sei definir direção pelo sol? Não fiz curso de escoteiro!
De qualquer forma, resolvi acompanha-los. Não cumprimentei ninguém e ninguém me cumprimentou. Simplesmente comecei a correr com eles. Eles continuaram correndo, sem nada falar. Nesse mundo agora, meras formalidades são muito triviais. Você só é educado em casos extremos de necessidade. Esse não era o caso.
Continuamos correndo, o grupo foi aumentando. Eu nem percebi. Só queria achar um lugar para me esconder. Porra de estado! Como eu vim parar aqui mesmo? E cadê as cidades, construções, casas? Por que os gaúchos se achavam tanto se aqui não tem nada???
Uma mulher caiu. Tava cansa demais para continuar. Um cara gordo resolveu ajudar. Ele era briguento. Pelo visto queria ser o Alpha-male do grupo. Queria puxar briga com o outro homem – um frangote. Sorte nossa o outro ser frangote. Brigas agora são idiotas. Mas todos paramos para decidir o que fazer.
Como diabos esse pessoal pode ser tão burro? Discutir parado? Andar devagar? Nós vamos ser comidos, porra!!! Pelo menos que sejamos presas difíceis. Ta, cansados não oferecemos resistência, mas meu pensamento não se preocupa com tanto. Acho que se eu tiver muito, muito cansa, eu acabo por não me importar de morrer. Bem, pelo menos eu sei que em forma eu vou estar.
Decidimos continuar. Teoricamente agora eu era a Alpha-female. Mas não, muito obrigada, não quero procriar com um gordo. Se ele pelo menos fosse gostoso... ou bonito... não precisa ser os dois, basta ser um, né?! Mas não... além de gordo é feio... ou além de feio é gordo, depende do ângulo e do grau de importância que você da para cada categoria.
Por que diabos eu to pensando nisso? Acho que é o nervosismo. Porra de estado! Bem, lá está um posto. Beleza, da para nos escondermos lá. E daí se tiver aquelas coisas? Elas vão aparecer eventualmente. Bando de medrosos. Vamos tentar arrumar armas. Paus não são de grande ajuda, mas quem sabe, né?!
Bem, ta, o meu plano era irmos todos juntos. Mas bando de medrosos. Querem ficar pra trás. Ta bom, vamos só eu e o Alpha-male (eu ainda nem sei o nome dele, mas já disse, trivialidades como nome são irrelevantes). Tem sangue no primeiro carro. Acho que tem alguém aí. Ele prefere chamar a galera, mas antes disso.... puta que pariu!!!
Surgiu o bicho de trás dele, eu tentei, eu juro que tentei pará-lo... mas acho que o choque ainda tava agindo... Eu acabei acertando o Alpha-male... acho que no fundo eu não queria dividir a posição Alpha... será que eu sou tão malvada assim?
Porra, porque to pensando nisso... na real, no que to pensando?? Esse trem ta comendo todo o cara... o que eu faço, o que eu faço?? Já sei, vou ataca-lo com o pau... ta, não é uma idéia brilhante, mas a melhor que tive até agora... E eu até acerto, fraco... porra, preciso ficar mais forte...
Ai meu deus! Esse trem ta vindo para cima de mim... pensa pensa pensa porra!! Para de xingar, porra... ai meu deus... quem ta gritando? Não sou eu!!! As gurias vieram me salvar! Ainda bem! Ufa...
Ta, esse trem me mordeu, ta doendo pra carai... mas temos que sair daqui, nos esconder... entrar no posto, isso! Conseguimos! Respira respira respira respira... O que fazer agora? O que elas estão falando? Hã?!
Ah, sim, eu to bem... obrigada por perguntar. Precisamos agora defender esse lugar. Claro que o bicho vai vir nos pegar depois de terminar com o cara lá, né, sua anta!! Tínhamos que mata-lo, mas com o que?! Os paus, pelo visto, foram uma péssima idéia... eu até gora tive uma idéia boa?! Ain, abafa o caso... ah, estamos discutindo, né... ah, é mesmo, temos que proteger o lugar....
Mas podia ser um lugar melhor de se proteger, né?! Não, do jeito que eu dou sorte (e esse estado é uma porcaria) o lugar é péssimo de se proteger. Vamos fazer armadilhas, acho que é o melhor. Combino com as gurias de fazer isso. Só tem duas... eu não sei o nome delas ainda. Eu quero procurar pelas coisas, afinal sou ótima para achar o que está escondido... só que meu cérebro não ta mais me acompanhando.
Quando estamos terminando de arrumar as coisas, vemos a senhora. Ela tava com a gente. Ele enlouqueceu, ta andando em direção ao bixo que ta atacando o antigo Alpha-male. O que fazer? Temos que tirá-la de lá. Mas enquanto discutimos, um barulho no fundo.
Porra, ninguém lembrou de colocar o freezer lá na porta?? Vamos então fazer isso agora. Porra, sorte do carai. Tudo deu errado, tudo! A senhora lá, o bixo no caminho, alguma coisa vindo nos pegar por trás... se ficar o bixo pega, se correr o bixo come!
O que fazemos, o que fazemos? Minha mente já não pensa, elas bem que poderiam dar uma idéia viável. Eu podia explodir tudo (depois penso em como não nos matar na explosão), mas não consegui nada para fazer faísca. Só achamos as facas até agora. E a senhora perto de ser comida. Nós também.
Ta, vamos ser idiotas: correr com tudo para a estrada! Não da, a pressão é grande demais... eu não sei o que fazer, não achei nada... e a senhora perto de ser comida... então vamos, no três... 1... 2... 3....
Corremos, corremos, a tal de Rubi (em algum momento eu descobri esse nome) chega primeiro na senhora... mas ela não responde. Eu tento pegá-la pelo braço e fazer correr, mas ela não reage. Choque. Já vi isso. Não sei com quem. Porra, meu, tinha que gritar? Agora os 3 bixos tão atrás da gente!! 3!! Quer saber, se quer se suicidar, fique a vontade... só não nos mate também, né?!
Bem, o jeito é correr... e deixar eles se divertindo com a senhora... sei que é cruel, mas a gente fez o que podia, não foi? E, por causa disso (mais ainda minha culpa, mas abafa o caso), nós estamos agora correndo, no meio da noite escura, com fome, com frio, na estrada, perdidas, sem direção... sem saber de onde viemos, como estamos e, o mais importante, para onde vamos...
Dia II
Ta, corremos mais que condenadas. Estamos morrendo de fome. Já descobri o nome da outra guria: Ângela. Nome legal. Estamos morrendo de sede também. Já estamos muito longe, da para diminuir o passo. Vemos uma ponte. Eu morro de medo de ponte.
Essa história... sempre tem bixos por aí. Mas estamos com sede e cansadas e de noite... ah, meu, vamo que vamo... Temos que descer com cuidado, chegar na beira do rio e beber um pouco d’água. Ai vontade de pular e tomar um banho! Mas não dá.... Vou limpar meus machucados e ver essa mordida...
Nossa, tinha a mordida, né... parece que pegou mais de raspão mesmo... rancou mais blusa do que qualquer outra coisa... Mas as gurias tão me olhando como se eu fosse um bixo agora, uma daquelas coisas!
Ain, eu não sei dessa história de mordida. Detestava filme de terror, não conheço nada. E mal lembro como vim parar aqui. Como diabos vou saber se eu vou virar um desses trem?! E chegamos a um empecilho... bem, a princípio já que eu posso virar um monstro melhor eu dar minhas armas para ela. Assim se eu virar algo, elas podem me matar. Mas é uma merda, a gente podia descobrir isso logo. Detesto ficar desarmada. Posso até ser um pouco atrapalhada, mas com armas eu tenho uma excelente pontaria! Sempre acerto em cheio no alvo!
Bem, desarmadas continuamos. Passamos a ponte, rápidas, e seguimos. Tem luzes adiante. Vamos em direção a estrada e vemos uma sombra. Vamos devagar e vemos que é um carro. A Rubi logo fica empolgada e vai abrindo a porta... nem me da tempo de gritar e falar “não, pode ser um bixo”. Tarde de mais... a sorte era que era um ser qualquer. Jack, se eu não me engano.
Ele tem um carro... estamos com fome, ta frio e chovendo... queremos chegar na cidade... acho que podemos utilizá-lo. Portanto, educação pra que te quero. Puxo conversa. O carro ta sem gasolina (ser inútil) e ele não quer ir para a cidade. Começa a chover e eu pergunto se podemos todos entrar no carro, para não nos molharmos. Ficamos no carro conversando sobre o que aconteceu no mundo.
Ângela ta estranha.... toda feliz no colo desse Jack, quieta... mas, enfim, não podemos continuar aqui. Eu digo para irmos para a cidade. Estamos morrendo de fome, daqui a pouco nós começaremos a comer uns aos outros.... ops, acho melhor não falar isso. Elas podem pensar que eu estou me transformando!!! Melhor não...
Bem, decidimos ir. Mas estamos cansadas... é uma descida... lei da inércia, com a gravidade... pra baixo todo santo ajuda! Vamos brincar de Pequena Miss Sunshine. Com o tranco inicial, empurrando e entrando no carro, conseguimos descer. Um pouco antes de entrar na cidade eu paro. Não quero me deparar no meio da cidade com o carro sem velocidade para continuar e a gente rodeada de zumbis (ou o que quer que esses bixos são).
Vemos uma fábrica e algumas casas. Eles acham que pode ter comida na fábrica. Eu prefiro chegar toda a cidade primeiro, antes de ir para lá. Grandes galpões me deixam desconfiadas Não que pequenas casas não me deixem (também), mas mais fácil de fugir... ou não.... ain, a fome não deixa pensar.
Antes de irmos, no entanto, eu pego um farol e, com ajuda da bateira, improviso uma lanterna. Às vezes nem eu sei explicar o que faço com as coisas. Por mim na real eu desmontava todo o carro e fazia algumas armas, mas o dono do carro não deixa.... Looooooser! Bah, que ele não me escute...
Bem, vamos indo... ele que é homem, e está armado, que vá na frente. Eu fico no meio, bem protegida... Ele abre a porta e entramos, pelo fundo, na última casa... uma grande kitnet, legal... Vamos olhar o que tem na cozinha...
E assim termina a aventura do dia... mais suspense impossível, né?!